Angola
sofrida e amargurada
mas amada
Angola que teus filhos vis-te partir
e que culpa têm os filhos
Angola
tu es mãe
tu es nossa
mas a nós não pertences
a terra das esperanças mortas
dos sonhos perdidos
da juventude esquecida
da criança nua
terra de gente sofrida
Angola
em teu ventre nascemos
vimos a morte de nossos irmãos
numa guerra que não era nossa
angola
do petroléo, do cafe
do diamante...
terra rica onde a pobreza reina
das riquezas um punhado de homens
alimentam-se
esquecendo que nesta refeição
a sobremessa é o povo
Angola
terra do havemos de voltar
e que ansiedade de voltar.
Luanda
de amores e desamores, odios e invejas
cidade do mujimbo, do viu e disse
cidade da kianda e do kimbanda
Luanda
dos mercados o orgulho e ganha pão de muita gente
Luanda não dorme cochila escassas horas
Luanda
das praças da noite, cervejas e pinchos de lamber os dedos
Luanda
de estorias bizarras do jacare bangão
homem cobra, mão preta e outras que fizeram epoca
Luanda
de encontros e desencontros
do ponto final, da chicala, do farol, do benfica
o draga muitas fimbias.
Luanda
dos muceques onde as nossas kotas pela manhã
varrem as portas uma maneira de espantar os males
logo ao começar o dia
Luanda
dos capitães de areia
da prostituição, do BO ao fundo da ilha
mulheres vendem o corpo em troca de um pouco
Luanda
do Dagosto, do petro, ASA,
dos trumunos de bairro nas manhãs de domingo
Luanda
do grito da peixeira ao raiar do dia
da festa da ilha, oferendas a kianda
os trapalhões testemunha de tantas trapalhadas
Luanda
do carnaval o da vitoria que o hoje esta longe de ser vitorioso
Luanda
dos nossos kotas que fizeram nome na sua epoca
kota elias, urbanito, david ze. joana pernambuco
e tantos outros
Luanda
do kizomba, mãe preta. maria das crequenhas
onde os kotas rasgavam de verdade
Luanda
das lojas do povo, dos depositos de pão
das bilheteiras de cinema onde "Hercules"
disputavam a hegemonia dos punhos
num negocio que rendia alguns tostões
Luanda
das kinguilas milionarias anonimas
afinal elas trabalham com milhões
Luanda
dos intermediarios tremendos
charlatões com pinta de honestos
sempre amealhando algum
Luanda
dos dya-u-zeca que sonham com dias melhores
sem moverem um dedo
Luanda
onde nenhum policia bebe alcool
eles so pedem gasosa e têm uns pentes
que não deixam piolhos a ninguem
Luanda
da mamã kitandeira
do bombo com ginguba
hoje é so saudade
Luanda
é aquela hoje choras
amanhã ris
hoje tens
amanhã chupas o dedo
Luanda de todos nós
a cidade da minha saudade
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